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sábado, 12 de junho de 2010

Descartes e suas certezas...

Após ter concluído que os sentidos - como a visão, a audição, o olfato, o paladar e o tato - poderiam nos enganar sobre um conhecimento de fato, Descartes parte para uma dúvida metódica a respeito de tudo. Por exemplo, muitas vezes sonhamos que estamos diante de seres fantásticos quando sabemos que estes seres habitam apenas a nossa fantasia; ou então bebemos e o mundo parece girar, quando, na verdade, trata-se de um efeito ilusório do álcool fazendo o cenário à nossa volta adquirir um movimento circular; ou deveras quando estamos resfriados e não podemos sentir precisamente os sabores dos alimentos ou os diversos odores das coisas; ou ainda quando se está com algum membro do corpo dormente e nele já não há sensibilidade; também pode ocorrer de ouvirmos uma voz que chama pelo nosso nome quando ninguém de fato o fez. São estes alguns exemplos simples sobre como podemos nos enganar com os sentidos.

Ele irá colocar à prova de seu raciocínio tudo o que aprendeu - e aquilo que se apresentar minimamente duvidoso sob o olhar rigoroso da Razão será descartado como mera opinião ou como ilusões dos sentidos. Somente o que resistir à sua cuidadosa investigação ganhará o status de conhecimento. O nosso filósofo acredita que, para realmente pôr tudo à prova, ele deve iniciar pelos fundamentos de qualquer conhecimento possível. Este fundamento ele considera ser o Sujeito. Para Descartes, uma de nossas primeiras certezas é acerca de nossa própria existência. Ainda que possamos duvidar de tudo à nossa volta, não podemos duvidar de que existimos. Porém seu rigor investigativo é tão grande que até a sua própria existência, enquanto sujeito que anda, come, respira, lê etc., será posta em dúvida.

Não vamos entrar nos detalhes da argumentação cartesiana que merece, por si só, um curso inteiramente dedicado a ela. Ficaremos apenas com os resultados dessa argumentação. Depois de muito meditar a respeito de sua própria existência, Descartes conclui que, enquanto “Sujeito que conhece”, ele deve, necessariamente, existir. Sua conclusão é apresentada na forma da expressão latina “Cogito, ergo sum” que, em português, significa “Penso, logo existo”. Basicamente ele apoia a prova, necessária e universal, de sua existência no fato de ser ele um sujeito que pensa. Porém, mais do que isso, sua existência está apoiada no fato de poder pensar sobre isto, ou seja, no fato de ele poder pensar sobre o próprio ato de pensar.

Existe uma diferença simples entre dois níveis de pensamento e que podemos entender facilmente: existe um primeiro nível em que pensamos normal-mente sobre algo. Este algo pode ser um objeto, uma idéia, uma pessoa, um acontecimento. Neste primeiro nível estamos tentando nos tornar conscientes sobre o mundo ao nosso redor. Mas existe, também, um segundo nível de pensa-mento, que ocorre quando pensamos sobre o pensamento que pensa. Este pensamento tem por finalidade nos tornar conscientes sobre nós mesmos. Ele tem por objeto a si mesmo e, neste sentido, é reflexivo. Isto é, ele quer enxergar a si mesmo, assim como nós tentamos nos enxergar quando nos colocamos na frente de um espelho. Contudo os pensamentos não possuem espelhos para poderem constatar as suas existências; tudo o que os pensamentos têm são outros pensa-mentos. Deste modo, eles se obrigam a encontrar um acordo mútuo que decorre da afirmação de suas próprias existências particulares. Este acordo mútuo sobre a existência de cada pensamento tomado individualmente como que fornece uma “prova” (ou o próprio acordo já é uma prova) sobre a existência do conjunto de todos os pensamentos, o Sujeito.

Está é a primeira certeza de Descartes. Ele pensa sobre a sua própria condição de um Ser Pensante. Assim ele obtém uma prova, que não é física, mas, exclusivamente, intelectual, de que existe, não como uma pessoa que anda, fala, come e lê, mas somente como um Ser que pensa. Como puro Sujeito do conhecimento. A partir desta primeira certeza, que é o alicerce do edifício de seu Racionalismo, ele irá obter uma série de outras certezas a respeito de sua existência física e da origem de toda existência, do Motor primeiro.

Quando Descartes postula a sua existência em termos de um Ser Pensante, ele, automaticamente, cria uma distinção radical entre dois tipos de substâncias. A primeira é aquela que fornece as condições para a existência do pensamento puro. Esta substância ele chama de espírito (ou alma) e se identifica com o próprio Sujeito do conhecimento, absolutamente desmaterializado. A segunda é aquela que fornece as condições de existência do Ser físico e corpóreo: estamos falando da própria matéria. Desta feita, Descartes separa o Sujeito em duas metades, duas substâncias que não se identificam, que não se confundem jamais, a de um Espírito (Mente) e de um corpo. Em latim esta separação se dá em res cogitans et res extensa.

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