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sábado, 12 de junho de 2010

A Crítica de Hume...

Como já pudemos apreciar, Hume mina as bases de todo o conhecimento ao afirmar que, no mundo, existem apenas eventos isolados que são associados em nossas mentes devido ao fato de, muitas vezes, aparecerem juntos em certas circunstâncias. Isto é, trata-se apenas de associações simples e não de uma cadeia causal no sentido forte da lógica. Conclui ele que estas meras associações de idéias, baseadas em eventos que se repetem, não constituem um funda-mento para a postulação de Leis que permitam afirmações do tipo: “Dado o Evento A, então necessariamente ocorrerá o Evento B”, ou ainda “Isto é um Evento do tipo A e não se confunde com o do tipo B.”.

Para entendermos direito o pensa-mento de Hume, é mister que tracemos uma distinção entre duas idéias: a de Contingência e a de Necessidade.

É contingente tudo aquilo que não é Necessário, ou seja, tudo aquilo que depende de uma confirmação observacional para afirmarmos com certeza que existe. Contingente é aquilo sobre o qual não se pode ter certeza no sentido lógico da palavra, no sentido forte. Disto concluímos que um conhecimento é contingente quando dependemos que um evento aconteça para, a partir daí, realizarmos a observação sobre ele e, então, obtermos o dito conhecimento. Em poucas palavras, “contingencial” quer dizer que só podemos provar que ocorre depois de ter ocorrido. Dizemos, então, que o conhecimento que obtemos assim é a posteriori, isto é, posterior-mente à observação do evento.

Necessidade é, como já tivemos a oportunidade de estudar, aquilo que faz com que saibamos que algo ocorre antes de realizarmos qualquer observação sobre ele. Se diz que um conhecimento é Necessário, portanto, somente quando ele é válido independentemente da situação, do tempo ou do sujeito que conhece. Este conhecimento possui uma garantia lógica de existência e dispensa qualquer confirmação por meio de experiências. Neste sentido, dizemos que se trata de um conhecimento à priori. As diferenças entre a priori e a posteriori serão melhor estudadas adiante.

Tomemos um exemplo. Para Hume, o fato de o Sol ter se levantado todas as manhãs, desde o início dos tempos até o dia de hoje, não colabora para a formulação de nenhuma Lei que confirme que este astro se levantará, por exemplo, no dia de amanhã. Em outras palavras, não podemos, logicamente falando, ter certeza de que o Sol se levantará sempre baseando-nos, apenas, no fato de que, em todos os outros dias do passado, isso tenha naturalmente ocorrido. O que Hume quer mostrar é que não há uma relação causal de fato entre os eventos, mas apenas associações que criamos no decorrer de nossas vidas e que generalizamos como supostas Leis.

Não há uma conexão lógica, por exemplo, entre o fato de eu colocar uma panela com água sobre o fogo e o fato de a água começar a ferver. Segundo Hume, por causa de estes dois fatos acontecerem numa certa ordem no tempo (primeiro: coloco a panela com água sobre o fogo; segundo: a água começa a ferver.) com freqüência de 100% não nos permite criar uma Lei que diga: “A água necessariamente ferve quando a colocamos sobre o fogo.”. É um fato da vida que a água ferva ao ser colocada sobre o fogo, assim como é um fato da vida que o Sol se levantará amanhã. Contudo só teremos um conhecimento, no sentido estrito, sobre estes dois eventos no momento em que verificarmos observacionalmente a ocorrência dos mesmos. Assim, a afirmação: “A água ferve ao ser colocada sobre o fogo” é absolutamente contingencial, depende da experiência e, portanto, é um conhecimento à posteriori.

No entanto, observe a seguinte afirmação: “Se penso em um triângulo, então ele deve possuir três lados”. O que é dito com esta frase não requer que desenhemos diversos triângulos para sabermos se, de fato, eles corroboram o meu pensamento. A conclusão desta afirmação decorre necessariamente da definição de triângulo. Chamo de triângulo qualquer polígono que possua três lados, independente do tamanho, cor, tempo ou da pessoa que o desenha. Na verdade, a afirmação da existência do triângulo independe, até mesmo, de que jamais tenha sido feito qualquer desenho que o represente. Poderíamos muito bem nunca ter visto o desenho de um triângulo e, ainda assim, isso em nada afetaria ao conceito de um polígono de três lados.

A maioria das afirmações sobre o mundo, no entanto, são afirmações contingenciais. Dependem da experiência para serem corroboradas. Quando Hume diz que simplesmente não há maneira de termos certeza sobre elas a não ser depois de já terem ocorrido, ele acaba gerando uma imensa crise que ameaça grandemente o conhecimento científico que tem por hábito derivar Leis gerais baseando-se nas observações, assim como propunha o Empirismo. Hume afirma com isto que o conhecimento sobre a identidade das coisas, assim como sobre a decorrência de umas em função das outras (água fervendo em função do calor que a aquece), não passa de hábitos associativos. Não correspondem a um conhecimento de fato, mas somente à força do hábito.

Dizemos que a água irá ferver ao ser colocada sobre o fogo não porque exista a necessidade de que ela ferva, mas somente porque isto sempre aconteceu. Mais do que possa aparentar, isto causou um tremendo desconforto entre filósofos e cientistas que criam na existência invisível de uma conexão entre os eventos no mundo. Hume conseguiu abalar a fé entre aqueles que acreditavam numa real existência nas relações causais (Causa à Efeito; Se o Evento A ocorre, então ocorre o evento B). Todas as previsões científicas que se podiam derivar das experiências, por exemplo, perderiam o valor na medida em que não se poderia mais contar com as relações causais. Deste modo, todo o conhecimento científico, assim como toda a metafísica, poderia muito bem ser descartada como trivialidades.

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